Eu gosto de esportes particularmente o basquetebol, paixão que mantenho desde a adolescência. Assistindo um jogo nacional vi a sentença como slogan de uma marca esportiva: “O Brasil não se explica, se sente”.
Ao ler a frase, refleti sobre como entender melhor o país que nós vivemos e como tornar o Evangelho mais conhecido e influente, e como isso opera no contexto da igreja local e da missão de Jesus.
A frase expõe o calor e a afeição do Latino americano em sua paixão e alegria (demonstrada, por exemplo, na musicalidade). E o brasileiro, particularmente o carioca, é bastante passional em suas emoções, sendo o aspecto afetivo muito relevante para a apreensão de conhecimento. Um exemplo disso é que na igreja local, uma pessoa ou um grupo pode não concordar com a teologia que o pastor, a liderança ou a igreja segue, mas permanece ali por vínculos afetivos com a comunidade. (Embora sejamos influenciados pela cultura do primeiro mundo, particularmente a americana, em questões como empreendedorismo e praticidade e o maior uso da mente e razão por causa da globalização)
A importância da Teologia das afeições
Por isso, é importante para nós cristãos, buscarmos usar esse aspecto da cultura brasileira para a missão de Jesus e o discipulado na comunidade local. A própria Bíblia nos empurra para isso (Jesus chamando pescadores para serem pescadores de homens – Marcos 1:16-20 e Paulo no areópago em Atos 17 dentre outros).
É muito importante então ler Jonathan Edwards, ainda que em um contexto tanto no tempo, como geograficamente distante do nosso, ele é quem na história da igreja, mais aprofunda teologicamente a questão das afeições mostrando tanto o seu valor, quanto o perigo do excesso (polarização que assistimos em nosso contexto). Ele salienta que o uso das afeições publicamente na comunidade não é necessariamente um verdadeiro sinal de conversão e verdadeira relação com Deus, mas que o novo nascimento que o Evangelho traz toca nas afeições conduzindo o crente a um relacionamento apaixonado com Deus através do Evangelho de Jesus.
Quem aplica isso bem em nossos tempos é o conhecido pastor John Piper que estará no Brasil esse ano (outubro) na conferência Fiel e em outros locais. Baseado em Edwards, ele salienta que “Deus é mais glorificado em nós quando estamos plenamente satisfeitos Nele”, tendo como a sua ênfase teológica o prazer e a alegria em Deus em todas as áreas da vida, que é chamado de hedonismo cristão.
Por mais que eu não concorde com algumas coisas, Rick Warren e o Best seller “Igreja com propósitos” com sua metodologia é a que mais está contextualizada para a cultura contemporânea (transição entre modernidade e pós-modernidade) mais focada em relacionamentos do que o aspecto cognitivo da verdade (claro que esta não sendo negligenciada, mas o uso dos relacionamentos que está em evidência deve ser utilizado para alcançá-la), cultura esta que a minha cidade natal, Rio de Janeiro, está inserida.
Um chamado ao equilíbrio
Na Palavra de Deus está escrito “Amarás o Senhor teu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo entendimento” (Mateus 22:37). Na Bíblia, percebemos que o homem pensa, sente e age. Sabemos na prática que um desses três sobressai mais e um menos. O problema de focar apenas nas afeições em detrimento da razão e da vontade é o risco de um suicídio intelectual em nome da fé. Kierkegaard, embora tenha o seu valor, caiu nesse erro ao dizer que a fé no Evangelho é um salto no escuro. Abraçar o Evangelho é um chamado para luz e não um salto no escuro.
Ao trabalharmos as afeições, sabemos que na visão de liderança tri-perspectiva, o sacerdote que foca nas emoções das pessoas tem um imenso valor e relevância no contexto brasileiro e que um ministério mais profético (considerando apenas o aspecto cognitivo da verdade) negligenciando o aspecto emocional, estará fadado à irrelevância e a estagnação ministerial. Mas, se houver apenas o foco nas emoções e no coração sem considerar um estudo mais diligente da Palavra, haverá o risco de permanecer na infantilidade evangélica ou imaturidade espiritual.
O Evangelho nos conduz ao equilíbrio.
Para meditar
Como usar o ser passional do brasileiro e do carioca para pregar o Evangelho? Esse aspecto influencia (ou deve influenciar) a nossa abordagem?
Devemos manter apenas o aspecto emocional-afetivo em detrimento do aspecto do conhecimento da verdade e da vontade funcional? Podemos e devemos equilibrar os três?
No Brasil e no Rio de Janeiro prevalece o aspecto afetivo-emocional. Podemos trabalhar dando mais ênfase a esse e desenvolvendo outros ou devemos lutar para equilibrar os três em simetria?
Qual o papel dos relacionamentos e da informalidade nas comunidades cristãs e evangélicas? Totalmente negligenciado ou totalmente focado (maior ênfase em sociabilidade)?
Que Deus edifique no Brasil e no estado do Rio de Janeiro mais e mais comunidades que o adorem apaixonadamente “em Espírito e em verdade” para a Sua única e exclusiva glória e majestade.
Bela reflexão! Como diria Edwards, precisamos ter luz na mente e fogo no coração! Abraços!
Valeu Samuca,
espero ve-lo em Maio na 2a conf. da Atos 29.
Abração